O amigo Secreto



A turma reuniu-se na sala enfeitada. Martinha carregava um pacote enorme, cheio de laços. Suzana e Antônio conversavam animados. Mariana pediu para Juju começar a brincadeira. Cada um devia explicar antes por que escolhera o presente para seu amigo secreto.




Quando Juju terminou de falar, um tênis, que mais parecia uma nave espacial, foi parar nas mãos de Felipe. Este contou por que comprou o CD importado para o Luís. Que explicou por que escolheu a bermuda de surfista para o Bruno.



— Bruno! — a turma gritou. — Agora é você!



Bruno pôs-se a falar:



— Bom, pessoal, é o seguinte: na primeira semana de dezembro, já tarde da noite, lá em casa, ouvimos um grito de filme de terror.



Todo mundo saltou da cama: “O que foi? O que foi?”



Minha mãe apontou, soluçando: “A ge-la-de-dei-ra! Ela que-que-brou!”



“O técnico avisou que, se ela enguiçasse de novo, já era”, disse meu pai.



“Não faço questão de geladeira”, minha irmã falou. “O que não dá é ficar sem computador.”



Aí, minha mãe disse: “Se a gente fosse esquimó, jogava a caça sobre a neve, cobria com gravetos pros lobos não roubarem e pronto. Mas, em pleno verão brasileiro, geladeira é prioridade. Precisamos comprar uma nova imediatamente”.



“E daí?”, minha irmã perguntou.



“E daí que o mesmo dinheiro não sai da mesma carteira duas vezes”, disse meu pai.



“Então o computador dançou?!”, eu perguntei.



Meu pai respondeu: “O computador e outras coisinhas. Nossa geladeira é dúplex, custa mais”.



“E o presente do amigo secreto”, minha irmã lembrou mais que depressa.



“Bolem um presente criativo e que não custe nada”, falou meu pai.



— Foi aí que eu tive a idéia — continuou Bruno, abrindo a mochila e tirando de lá um pequeno pacote.



— Espero que meu amigo secreto goste. Ele é o Rafa.



— Aí, Rafa! Vai lá! — gritou a turma.



Rafa começou a abrir o pacote. O silêncio era total.



— Não acredito que você guardou esta foto, cara! Que idade a gente tinha?



— Mostra! Mostra!



E a foto emoldurada de Bruno e de Rafa, quando tinham 6 anos de idade, foi passando de mão em mão. O maior sucesso.



— Puxa, Bruno. Só faltou uma coisa — disse Rafa.



— O quê?



— Um abraço, cara. Gosto de você! Bom fim de ano!



Conto de Regina Chamlian, ilustrado por Alexandre Dubiela


Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/amigo-secreto-545873.shtml